sábado, 16 de junho de 2007

A PÉROLA E NÓDOA

O dia 29 de maio de 2007 registrou a estréia do Espetáculo de Dança/Teatro ELA que seguiu em temporada ainda nos dias 30 e 31 daquele mês. A dramaturgia construída por João Vasconcelos(Direção Geral) e Valdemar Santos(Direção de Coreografias) apresentou um trabalho limpo, econômico em apropriação da temática MULHER. O percurso da humanidade feminina em aprimoramento da própria espécie ganhou forma e conteúdo estético-plástico na pele de Elizabeth Battali, Graciane Sousa, José Alves Filho, Juliana Márcia, Maria Clara Nascimento, Viviane Maranhão e a participação especial de Genu Morais. O reforço veio da cenografia de Siro Siris e Tupy, os figurinos e adereços de Siro Siris, a trilha musical de Roraima e a iluminação arrojada de Renato Caldas.
A produção-executiva e toda a equipe do ELA resolveram fazer a estréia do trabalho, apoiado pela Lei A. Tito Filho/FMC- FININVEST, no Theatro 4 de Setembro para em seguida percorrer as outras Casas da cidade. Para locar o Theatro 4 de Setembro o trabalho concorreu a um edital público de ocupação de pautas, ficando selecionado em segunda chamada, após apresentar documentações ausentes na primeira entrada. A produção-executiva do Espetáculo assinou contrato com a Casa e disponibilizou para os (03) três dias a quantia de R$ 600,00(seiscentos reais) assim discriminados: R$ 300,00(trezentos reais) como pagamento de pautas e R$ 300,00(trezentos reais) como caução.
Às vésperas da estréia, o diretor do ELA me comunicou que o diretor-técnico do Theatro havia informado que a produção-executiva teria que se responsabilizar pelo aluguel de 12(doze) pinos de luz, compra de gelatinas(leia-se, material usado para variar cores nos pinos de luz) e “arranjar” o linóleo porque a Casa não dispunha de um. Quando se assina um contrato de locação e paga-se taxas, pressupõe-se que determinados serviços sejam oferecidos. O edital público de ocupação de pautas acusava linóleo, mas a Casa não dispunha de um para o momento. Corre a lenda que o que havia sumiu milagrosamente. O diretor do Espetáculo até que tentou se virar para solucionar os problemas de material de expediente da Casa. A produção-executiva teve que dissuadi-lo dessa intenção, haja vista que se o artista paga as taxas exigidas, logo deve receber tratamento razoável de quem aluga o espaço. Na última conversa que João Vasconcelos teve com a diretora-administrativa do Theatro, ficou acertado que o ELA estrearia sem linóleo, mas que a Casa se responsabilizaria para conseguir o artefato para os dois dias posteriores da temporada.
Para esclarecimento do público leigo: linóleo é uma espécie de napa usada sobre o palco para atender a espetáculos de dança. Em espetáculos de teatro não se usa, a priori, esse tipo de material. O ator caminha sobre o tablado. No caso do bailarino(a) este(a) desliza sobre o palco, desenvolve exercícios de dança que exigem uma proteção para sua pele e corpo de um modo geral. Essa proteção vem do linóleo. Sabe-se também que o tablado(madeira) quase sempre é raspado e liso, logo oferece situações em que o bailarino(a) poderia escorregar, queimar a pele em contato com a madeira, se machucar feio. O linóleo é aderente e protetor dos riscos da atividade do bailarino(a), então indispensável para espetáculos de dança. A direção do Theatro parece não perceber essa necessidade e responsabilidade, pois tentou empurrar esse problema da falta de linóleo para a produção do Espetáculo.
Em sendo o Espetáculo subvencionado por patrocínio através da Lei A. Tito Filho, se detém em rubricas que não incluem a solução de problemas da ordem de material de expediente de uma Casa de espetáculos. A decisão da produção-executiva foi que o Espetáculo estreasse, mesmo sem o linóleo e com o risco de comprometer a performance dos artistas até que diretor do ELA encontrasse uma solução junto à Casa. A solução prometida foi “vazia”. A temporada foi realizada, graças a Deus sem acidentes, no palco limpo. A promessa da diretora-administrativa de resolver o problema do linóleo foi falsa, sem a palavra dada. Quando se estabeleceu a promessa do Theatro de conseguir o linóleo(29.06.07), João Vasconcelos ainda recebeu um recado do diretor geral da Casa, abre aspas Vê se bota público no Theatro para repor as gelatinas utilizadas, fecha aspas.
Há uma novidade na Casa: os espetáculos ali inscritos têm que atingir o mínimo de hum mil reais de bilheteria para que o Theatro não fique com prejuízo de caixa. A caução no valor de 100(cem reais) por pauta servirá para cobrir os 10%(os dez porcentos da bilheteria). Quem não atingir essa média de público pagante também não tem direito a borderaux, ou seja, está fora do histórico da Casa. O ELA não atingiu essa média em dinheiro. Os números da Casa de espetáculos exigidos e não atingidos impediram que o
Espetáculo tivesse o documento de borderaux.
Parece haver um entendimento enviesado sobre quais são as responsabilidades de quem dirige determinados órgãos do setor público. Não se sabe se, no caso privado da Casa de espetáculos pública, é uma postura referendada pela administração superior, ou se é só arroubo de realeza maior que a do rei.
A verdade é que para os artistas que têm já boas dificuldades para apresentarem resultados que satisfaçam ao patrocinador, ao público e afins, fica uma pergunta que não quer calar. ONDE É QUE SE ERROU AO APOSTAR EM PESSOAS, PROPOSTAS E POSTURAS POLÍTICAS DE DISCURSOS DE INCLUSÃO?
O artista se defende como pode, às vezes com + passionalidade que razão. Mas precisa produzir e bem, a despeito de qualquer adversidade.
Então onde está a nódoa? Talvez esteja nas posturas enviesadas, nos poderes distorcidos e nas várias e abertas perspectivas de que: se esse comportamento desrespeitoso é com o produto local, então a retórica governamental que alardeia investimento na cultura localizada é um sério e grave engodo, pois os assessores negam o marketing.
Onde está a pérola? Ah! Essa está, sem sombra nem dúvidas, num produto de boa qualidade, de pés na terra e tablado, que agrada a quem aprendeu a desenvolver a pecha humana da sensibilidade.
Às vezes, mas só às vezes, quase se começa a crer que algumas pessoas da cidade sofrem do complexo de derrotados. Estão sempre infligindo possibilidades para virem a queda de Esparta(entenda-se, história das civilizações e cultura para legado ocidental), que, com a licença poética, não foge ao contexto.
A manifestação cênica, de sempre, vai sobreviver com ou sem linóleo. Aos vencedores a coragem e a criatividade, mesmo sem o retorno dos tributos oficiais e alhures.

MANECO NASCIMENTO

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