sexta-feira, 15 de junho de 2007
CHAPA QUENTE
Autor premiado, fecundo, com uma série de peças instigantes e provocativas, sempre tendo como eixo a discussão social e a condição humana, Mário Bortolotto integra o Projeto “E Se Fez a Praça Roosevelt em 7 Dias”, apresentado diariamente no Espaço dos Satyros, às 19 horas, na qualidade de autor e diretor. A peça que escreveu e dirige – e que é encenada aos domingos, devendo entrar em carreira normal no mês de julho, graças ao sucesso de público que obteve – chama-se Uma Pilha de Pratos na Cozinha (nome banal, prosaico, mas que se encaixa perfeitamente bem na história da peça, por mostrar exemplarmente como o prosaico e o cotidiano estão bem próximos de realidades mais profundas e dolorosas). Mário Bortolotto foi um dos fundadores do Grupo Cemitério de Automóveis em Londrina, no Paraná, tendo se radicado em São Paulo, ele e o grupo, desde o início da década de 90. Vários textos seus obtiveram grande receptividade junto ao público e à crítica. Para citar apenas alguns, basta lembrar A Medusa de Ray-Ban, O Diário das Crianças do Velho Quarteirão e Nossa Vida Não Vale um Chevrolet. Com essa sua nova peça, Bortolotto viaja brilhantemente por situações-limite do ser humano, expostas na trajetória de quatro personagens – interpretados com garra e paixão por ótimos atores: Otávio Martins, Paula Cohen, Alex Grulli e Eduardo Chagas. O cotejo entre vida e morte, entre a banalidade e o transcendental, enfim, entre ações e sentimentos superficiais e ações e sentimentos viscerais, estão presentes com força e beleza poética no texto de Bortolotto. O público interage desde o primeiro momento com a narrativa – não só pela qualidade da encenação e pelo impacto literário do texto, mas também pelas interpretações muito bem desenhadas e desenvolvidas e pela presença da música na montagem – aliás, umas das qualidades de Mário Bortolotto como diretor, ele sempre soube usar, como poucos outros encenadores teatrais, a música em cena, trazendo para o espetáculo uma beleza e uma poesia extraordinárias graças à trilha sonora, sempre de muito bom gosto e sofisticação musical. Mário Bortolotto foi comparado, algumas vezes, ao grande Plínio Marcos, pela preocupação social, pelo teor psicológico e pelo retrato da marginalidade que mostra em sua rica dramaturgia. Isso pode ser verdadeiro e válido em certo sentido, mas é importante lembrar que Bortolotto tem vôo próprio, linguagem própria, e um universo moderno e debruçado sobre o ser humano deste início do século XXI. Uma Pilha de Pratos na Cozinha é uma referência importante em sua obra e o espetáculo em cartaz no Satyros permite-nos entrar em contato com o melhor dessa dramaturgia. Além disso, permite-nos ver um elenco afinadíssimo, que apresenta desempenhos primorosos.
(Aguinaldo Ribeiro da Cunha)
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