sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

SUA MAJESTADE, O CARNAVAL


por maneco nascimento

“Ó, abre alas qu’eu quero passar...”

(Chiquinha Gonzaga)

O talvez maior espetáculo de interação pública do mundo chega, eventualmente, com muita expectativa todos os anos. No solo brasileiro, o já quase oficial período de sexta-feira a quarta-feira de cinzas entrando pela tarde tomou fôlego do folião que, caso houvesse a semana inteira, ele provavelmente teria energia de sobra para brincar. Os quatro dias habituais e os dois oficialmente tidos como feriado (segunda e terça-feiras) foram se flexibilizando e a cada ano nunca + será igual àquele que passou.

O negócio do turismo do carnaval-espetáculo, da mulata exportação, do samba genuinamente nacional deu ao Brasil o título de número Hum em resultado fascinante à essa festa, misto de raças, cores, mitos e culturas transversalizadas.

A indústria do carnaval, como qualquer outra, foi quem melhor gerenciou os lucros e a pulverização da festa momesca. Dentro ou fora do período oficial carnavalesco, a manifestação trazida do além-mar para os salões da burguesia se rebelou e avançou das comunidades e terreiros populares para as ruas. Os corsos e entrudos evoluíram para as avenidas do samba e cordões de trios elétricos, etc., tudo na maior alegria correndo no sangue, acompanhada de suor, confetes e serpentinas abaixo do sol do equador.

Como parece não haver pecado do lado de baixo do equador, a overdose de alegria é também de bebidas e, mais perniciosamente, do mercado à branca e negra folia das drogas.

Há notícias que o Estado(de sítio) do Rio de Janeiro recebeu para este ano apoio financeiro + substancial dos poderes conjugados do Município, Estado e Federal, para tentar diminuir ou coibir as “ajudas” advindas dos cartéis e empresas do crime organizado e narcotráfico.

As comunidades, cavalo das escolas de samba, fincadas nos morros e periferias de grandes centros urbanos são responsáveis pelos melhores carnavais pra turista ver. È nessas mesmas comunidades que os negócios do crime organizado são plantados, não que a “cidade alta” esteja isenta. Ao contrário, esta está cada dia + metamorfoseada de morro.

Infelizmente é no verdadeiro morro onde o senso comum da sociedade asséptica acredita só haver bandido. Assim como os dedos das mãos que parecidos não são iguais, nas periferias dos centros arrumados também batem bons corações, que confundidos com contraventores sobrevivem, quando possível, ao fogo cruzado entre polícia e malfeitores.

O melhor carnaval, de extravasamento da alegria e da exorcização dos dias duros no país de Deus brasileiro, poderia ser o de + paz, harmonia e registro zero nos livros das delegacias, dos hospitais de urgência e emergência e dos obituários.

Enquanto isso não ocorre ainda no Brasil, que o sonho e a fantasia ganhem forma saudável e repitam o refresco que só nessa terra, berço do samba, tem significado de sentimento nacional, compartilhado na diversidade.

Teresina, 01 de Fevereiro de 2008

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